Inge Lehmann: a cientista que revelou o núcleo oculto da Terra

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Inge Lehmann foi uma sismóloga dinamarquesa que, em 1936, derrubou a compreensão científica estabelecida sobre a estrutura da Terra. O seu trabalho provou que o planeta possui um núcleo interno sólido – uma descoberta negligenciada durante décadas, mas agora fundamental para a geologia moderna. O sucesso de Lehmann ocorreu apesar de trabalhar em uma área dominada por homens e em grande parte isolada, tornando sua história um testemunho de brilho e perseverança individuais.

O estado da sismologia na década de 1930

Antes do trabalho de Lehmann, pensava-se que o interior da Terra era predominantemente fundido. A sismologia, o estudo das ondas sísmicas, era uma ciência nascente, ainda em grande parte teórica. Os pesquisadores usaram dados sísmicos – a forma como as ondas do terremoto viajam pela Terra – para inferir a composição do planeta. Mas faltava ao modelo uma peça crítica: um núcleo profundo e denso.

Descoberta revolucionária de Lehmann

A visão fundamental de Lehmann surgiu ao analisar as leituras sísmicas de um terremoto de 1929 na Nova Zelândia. Ela notou que certas ondas primárias (P), que podem passar tanto por sólidos quanto por líquidos, se comportavam de uma maneira que não se alinhava com a teoria predominante do núcleo fundido. Especificamente, algumas ondas P aumentaram de velocidade a uma certa profundidade, em vez de abrandarem como esperado no líquido.

Lehmann teorizou que esta aceleração se devia a uma mudança distinta na densidade – um núcleo interno sólido dentro do núcleo externo derretido da Terra. Seu artigo, “P’”, publicado em 1936, detalhou meticulosamente seus cálculos, gráficos e observações. A teoria foi inicialmente recebida com ceticismo, mas posteriormente confirmada por outros cientistas.

Ondas Sísmicas Explicadas

Para entender a descoberta de Lehmann, é útil conhecer os fundamentos das ondas sísmicas:

  • Ondas P (primárias): Ondas longitudinais que viajam mais rapidamente por qualquer meio.
  • Ondas S (secundárias): Ondas transversais que viajam apenas através de sólidos.
  • Ondas de superfície: Movem-se ao longo da superfície da Terra, causando a maior parte dos danos durante os terremotos.

A observação de Lehmann de que as ondas P aceleravam em profundidade indicava que elas estavam passando através de um material sólido – o núcleo interno. As ondas secundárias não podem passar através de líquidos, o que significava que o núcleo interno não estava derretido.

Um legado duradouro

A descoberta de Inge Lehmann revolucionou a nossa compreensão da estrutura interna da Terra. O núcleo interno sólido, agora conhecido como sendo principalmente ferro e níquel, desempenha um papel crítico na geração do campo magnético da Terra. O trabalho de Lehmann continua a ser fundamental para a geofísica, e o seu nome é homenageado na “descontinuidade de Lehmann”, a fronteira entre o núcleo interno e externo da Terra. Apesar de sua conquista inovadora, ela permaneceu uma figura relativamente obscura durante décadas. Só agora a sua contribuição para a ciência está recebendo o reconhecimento que merece.

A história de Lehmann demonstra que o progresso científico provém frequentemente de locais inesperados – daqueles que trabalham fora das instituições convencionais e desafiam a sabedoria convencional. O seu legado é um lembrete de que a persistência, a observação meticulosa e a vontade de questionar teorias estabelecidas são essenciais para o avanço da nossa compreensão do mundo.

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